Levantamento mostra que eleitores de Curitiba consideram importante fiscalizar os políticos e manifestar opinião. Apesar disso, a maioria dos eleitores admite não ser participativa
Falar é uma coisa. Fazer é outra. Quando o assunto é política, o curitibano vai bem no discurso, mas na prática são poucos os cidadãos que participam e acompanham a vida política da cidade. Esse é o retrato do eleitor de Curitiba revelado pelo Instituto Paraná Pesquisas que, a pedido da Gazeta do Povo, fez um levantamento sobre como o curitibano atua e pensa a política.
Metade dos entrevistados acredita que é necessário fiscalizar e manifestar a opinião aos políticos, mas admite que não se interessa por política. A maioria das pessoas ouvidas disse que não participa de ações como passeatas, associação de bairro e audiências públicas. Só 3,2% das pessoas consultadas, por exemplo, disseram que costumam ir a audiências públicas – que são reuniões feitas pela administração pública para ouvir as demandas e opiniões da comunidade.
Acompanhar o desempenho do político durante todo o mandato eletivo também não está entre as prioridades dos curitibanos. Para 37% das pessoas ouvidas, basta votar e escolher seus representantes para cumprir seu papel político. Só 13,2% responderam que nos últimos 12 meses, por exemplo, consultaram informações sobre a atividade dos parlamentares – seja no site da Câmara de Curitiba, da Assembleia Legislativa, da Câmara ou do Senado Federal.
Para o diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, o estudo mostra que o curitibano participa pouco e, quando participa, é porque houve um escândalo. “O povo participa pouco. Diz que gosta de participar, mas só depois que há um escândalo. Espontaneamente, a participação é pequena”, analisa. “O curitibano não gosta de política. É um cidadão reativo que precisa ser provocado”, completa.
De acordo com o cientista político da UFPR Emerson Cervi, o comportamento do curitibano é semelhante ao do brasileiro em geral e pode ser explicado por questões culturais e históricas. “A sociedade esteve longe historicamente da política. O cidadão aprendeu a atuar na democracia através do voto”, diz Cervi, salientando que não necessariamente a participação ativa dos cidadãos na vida política de uma cidade vai garantir melhor qualidade na democracia.
O antropólogo da UFPR Carlos Alberto Balhana relembra que nos anos 50 a população brasileira tinha um perfil mais revolucionário e com o passar dos anos isso se perdeu. Na opinião dele, o principal desmotivador são os casos de corrupção. “A partir dos anos 2000, vê-se uma força [a qual diz que] o papel do cidadão é apenas votar. Eles esperam que a imprensa mostrem a corrupção e como esses casos não são resolvidos, a população se cansa”, analisa.
Cidadania
Stein, um cidadão que destoa da maioria
Erni Benjamin Stein é catarinense, mora em Curitiba há 41 anos e é um cidadão que destoa da maioria dos curitibanos. O técnico de segurança do trabalho dedica parte do seu tempo para discutir e fazer política no bairro Orleans. Faz isso desde 1994 sem receber um tostão. Faz porque acredita na cidadania. A sondagem feita pelo Instituto Paraná Pesquisas mostra que ele é minoria.
A pesquisa revela, por exemplo, que como Stein, apenas 3,28% dos eleitores curitibanos participaram de alguma audiência pública nos últimos 12 meses. Stein foi a oito só neste ano.
Ele não tem mandato eletivo e diz não pretender ter. Nem mesmo o título de líder comunitário ele aceita.
“Me reconheço como um cidadão que ajuda as outras pessoas, não sou líder. Como eu, existem dezenas de anônimos que pensam em resolver os problemas da comunidade”, diz. A satisfação de Stein é, por meio da política, resolver as demandas dos moradores do Orleans.
As conquistas ele enumera com esmero. “A comunidade conseguiu ampliar duas salas para o ensino da pré-escola na Escola Municipal Monselhor Boleslau Farlaz, no Orleans. Conseguimos também que a prefeitura fizesse uma quadra coberta nessa escola.”
Os dados mostrados na pesquisa revelam o cenário, diz Stein, de um mundo individualista. “Falta percepção de cidadania. Vivemos numa sociedade do eu”, filosofa.
A saída, complementa ele, é a participação popular e o acompanhamento da aplicação dos recursos públicos. “Se 50% dos curitibanos fizesse um trabalho similar, melhoraria em 80% os problemas da cidade.” Fica o convite.
INFOGRÁFICO: Veja o perfil da participação política dos eleitores de Curitiba
Via Gazeta do Povo
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