Na segunda reportagem da série Herança Fantasma, o Diário levanta os reflexos da investigação na participação popular
Em véspera de eleição sempre surgem projetos e campanhas pelo voto consciente. Este ano, entretanto, estamos vivendo um momento diferenciado. A tentativa de despertar no cidadão o comprometimento político não parte apenas dos órgãos oficiais, como o Ministério Público e a Justiça Eleitoral. A sociedade também tem buscado se envolver no processo.
A influência é clara. A Operação Fantasma, desencadeada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) em outubro de 2011, deixou marcas na política local. Os resultados judiciais ainda não são quantificáveis, mas não há como negar os efeitos políticos e sociais.
Na primeira sessão após a prisão em flagrante do presidente da câmara, Admir Strechar (PMDB), o plenário estava cheio e a população indignada. A professora e pesquisadora política do departamento de História da Unicentro, Walderez Pohl da Silva, acompanhou pessoalmente as manifestações. “O público estava bem atuante e vi que realmente os vereadores se intimidaram”, observou.
Em sua opinião, a reação causou surpresa porque os políticos não estão acostumados a serem cobrados pela população. O presidente do Observatório Social de Guarapuava, José Abel Brina Olivo, concorda com a avaliação. “A lição da Operação Fantasma é justamente sobre a importância do controle social na gestão pública. Ficou evidente que, a partir do momento em que não há esse controle, as coisas descambam”.
Ainda assim, a professora Walderez acredita que o interesse da população é pequeno. “O maior problema é a falta de noção da coisa pública. As pessoas acham que o governo é dono do dinheiro e não nós mesmos”. A afirmação foi comprovada nas ruas pela reportagem do Diário. Poucos lembram o que foi a Operação Fantasma ou os motivos que levaram o Ministério Público a investigar os vereadores.
No entanto, é preciso reconhecer que os protestos cresceram e foram incentivados, principalmente, pelas organizações sociais. Desde outubro do ano passado, o plenário foi tomado em diversos episódios. O mais recente ocorreu no início de setembro, quando os vereadores decidiam os novos valores de seus próprios subsídios, do prefeito, vice e secretários municipais.
Houve ainda a audiência pública que discutiu o número de cadeiras no Legislativo. Apesar de a decisão ter sido tomada sem consulta, a sociedade civil organizada foi convidada a discutir o assunto e influenciou a nova decisão dos vereadores. Na avaliação da professora Walderez, a construção da imagem de tais entidades foi essencial para que o engajamento não morresse.
Após o escândalo político, inúmeras campanhas foram realizadas. Durante o período das convenções partidárias, entidades solicitaram às legendas: “Dê-nos bons candidatos que daremos bons eleitos”. A Acig (Associação Comercial e Empresarial de Guarapuava) e a Fiep (Federação das Indústrias do Paraná) também se preocuparam em resgatar a autoestima do guarapuavano.
A subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) abriu o diálogo com a casa e passou a participar das decisões. Na semana passada, a ordem auxiliou no estabelecimento do Comitê 9.840, que fiscaliza os candidatos durante as eleições. O Concejug (Conselho de Ética, Cidadania e Justiça de Guarapuava) também voltou a atuar.
Na opinião de Olivo, há um forte desejo popular de reverter a omissão vivida antes das investigações e que se reflete, principalmente, em ações organizadas. “A inexistência de um controle social mais efetivo por parte da sociedade, e não é demais dizer isso, facilitou aquelas ações nefastas na Câmara de Vereadores”, avaliou.
Via Diário de Guarapuava
Por Camila Tsubauchi
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