Artigo – Sistema OSB

10 ANOS DA LEI ANTICORRUPÇÃO NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DOS ODS 16 e 17

10 ANOS DA LEI ANTICORRUPÇÃO NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DOS ODS 16 e 17

O Dia Internacional de Combate à Corrupção, momento oportuno para analisar a trajetória de uma década da Lei Anticorrupção brasileira. Como já muito se disse neste ano, a Lei Federal nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, conhecida como Lei Anticorrupção, completou 10 anos.

A lei representou um marco no combate à corrupção no Brasil por introduzir regras mais rígidas para responsabilizar empresas por atos contra à administração pública. A lei, também, não apenas se firmou como um mecanismo para combater a corrupção, mas impulsionou a promoção da ética, transparência e integridade.

Mesmo ainda não estando regulamentada em quase 60% dos municípios e em 7 estados, segundo levantamentos recentes[1] [2], até outubro de 2023, 126 empresas foram punidas e mais de R$ 893 bilhões foram aplicados em multas, segundo dados da Controladoria-Geral da União (CGU)[3].

Além de fazer retornar aos cofres públicos recursos desviados, a Lei Anticorrupção incentivou a prevenção de atos ilícitos, resultando em aumento da transparência e da accountability; Redução do custo de licitações e contratos; Melhoria da qualidade dos serviços públicos; e Eficiência das Instituições Públicas.

Alcançando o setor privado, para promover um bom relacionamento, a Lei incentiva empresas a adotarem mecanismos e práticas de integridade e, com isso, tem promovido uma mudança de cultura organizacional. Hoje tem se falado mais em compliance, evidenciado a relevância da ética, da conformidade e da sustentabilidade como pilares fundamentais para uma atuação empresarial duradoura.

É fundamental reconhecer a importância e o valor de adotar mecanismos de integridade e compliance. Isso vai além da conformidade; trata-se de preservar a própria empresa, a sua reputação, mitigar riscos e fomentar um ambiente de confiança, e essa afirmação é verdadeira tanto para grandes empresas, quanto para pequenas.

Empresários e gestores devem compreender que o compliance não apenas evita multas e sanções, mas também gera resultados tangíveis, como a otimização de processos, redução de custos operacionais e, crucialmente, o fortalecimento da imagem e reputação no mercado.

Ao implementar o compliance, empresas fortalecem sua credibilidade, atraem investidores, parceiros e clientes, e conseguem acessar mercados mais restritos. Além de que, a implementação de políticas de integridade proporciona crescer de maneira sustentável.

Entre os benefícios do compliance estão também a diminuição de litígios, a atração e retenção de talentos, a promoção de um ambiente interno mais seguro e saudável, e, principalmente a redução de incidentes de corrupção e promoção da ética, refletindo em uma cultura organizacional sólida e alinhada com os valores da nossa sociedade.

Um investimento estratégico que impulsiona o crescimento e a sustentabilidade, independentemente do porte da empresa, mas que deve estar acompanhado da aplicação ativa dos princípios éticos e de integridade pelos líderes, em suas condutas diárias.

O comportamento ético e íntegro desses líderes estabelece os padrões para toda a empresa e influencia diretamente a cultura organizacional. O “tom que vem de cima” é poderoso, já que os líderes são vistos como exemplos a serem seguidos e suas ações têm um impacto profundo no comportamento e nas decisões dos colaboradores.

Quando os líderes incorporam e aplicam ativamente princípios éticos e de integridade em suas condutas diárias, eles estabelecem um padrão claro de comportamento para toda a equipe. O compromisso demonstrado influencia diretamente o comprometimento dos colaboradores e de toda empresa com esses valores.

Alcançar e influenciar parceiros de negócios é uma extensão poderosa do compromisso com a ética e a integridade. Ao estabelecer e manter padrões de ética e compliance elevados, a organização exerce um efeito positivo em sua rede de parceiros. Essa influência não se limita apenas aos fornecedores ou clientes imediatos, mas se estende por toda a cadeia de valor, uma vez que empresas que demonstram um compromisso real com a integridade têm maior probabilidade de atrair e reter grandes parceiros estratégicos.

A Lei Anticorrupção completa uma década e estabelece essa data como um marco na luta contra a corrupção no Brasil. Seus efeitos são reais, transformando o ambiente de negócios e a nossa cultura. A ética, a transparência, a integridade, a sustentabilidade, o respeito, voltaram a ser valores essenciais para organizações e pessoas.

Por isso, é fundamental que continuemos a fortalecer esse novo jeito brasileiro que vem sendo construído nos últimos 10 anos. E para isso, precisamos nos engajar, participar ativamente e fortalecer as instituições de controle e fiscalização. Só assim alcançaremos o mundo que desejamos para nós e para as futuras gerações.

Enfrentamento à Corrupção e os ODS 16 e 17

Para o enfrentamento à corrupção no Brasil, há muitos instrumentos jurídicos e institucionais, além dos acordos internacionais e da própria Agenda 2030 que traz, sabiamente, um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) focado nesse grave assunto, com metas importantes a serem alcançadas até 2030. O ODS 16 e suas 12 metas se resumem em “promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis ​​e inclusivas em todos os níveis”.

No enunciado do ODS 16, no website da ONU, percebemos claramente três eixos que tratam de cultura da paz, acesso à justiça e instituições responsáveis. Focaremos nesse terceiro eixo, porque instituições públicas e privadas que não funcionam de acordo com a legislação, que são suscetíveis à corrupção ou abuso de poder, acabam não entregando serviços e produtos a preços justos e com a qualidade que a população precisa e merece!

Esses três eixos citados, são desmembrados em 12 metas, das quais destacamos:

16.5 Reduzir substancialmente a corrupção e o suborno em todas as suas formas;

16.6 Desenvolver instituições eficazes, responsáveis e transparentes em todos os níveis;

16.7 Garantir a tomada de decisão responsiva, inclusiva, participativa e representativa em todos os níveis.

São metas desafiadoras para o Brasil, apesar de haver leis que colaboram para seu alcance, como a Lei Anticorrupção e a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527 de 18.11.2011). É urgente o investimento na Cultura da Integridade, desde a família e a base escolar, até os níveis corporativos e políticos, para que a legislação seja cumprida em todos os níveis!

Todos os Observadores Sociais do Sistema OSB se debruçam diariamente sobre a meta 16.5, na medida em que trabalham preventivamente no monitoramento das compras públicas em seus municípios. Todos os dias, em algumas das 100 cidades onde o OSB está presente, algum recurso público está sendo economizado com a ação dos voluntários e técnicos do OSB local, evitando-se o desperdício ou o desvio do dinheiro dos impostos que todos os cidadãos pagam. Para esse mister, conta-se com o apoio dos órgãos oficiais de controle, como Tribunal de Contas da União ou dos Estados, com o Ministério Público Estadual ou Federal, a Controladoria Geral da União e demais órgãos das Redes Estaduais de Controle da Gestão Pública. Foi assim que, desde 2013, gerou-se o montante de R$ 5,5 bilhões de economia aos cofres públicos municipais por meio da atuação dos Observadores Sociais, cidadãos que transformaram sua indignação em atitude!

Já a meta 16.6 fica evidenciada no trabalho do Sistema OSB sempre que oferece aos gestores municipais e a empresários locais, por meio da Escola da Cidadania e do congresso Pacto Pelo Brasil, o que há de ferramentas e instrumentos de gestão eficaz, soluções em tecnologia e inovação, boas práticas em Compliance e LGPD, mercado de compras governamentais, empreendedorismo e desenvolvimento de territórios. Para além disso tudo, o OSB atua fortemente no monitoramento dos Portais de Transparência no âmbito municipal por meio do programa Força Tarefa Cidadã, desde o início da pandemia do coronavírus. Uma parceria com o Tribunal de Contas da União (TCU) e Redes Estaduais de Controle da Gestão Pública, que vem alcançando resultados extraordinários e recebeu premiação do Instituto Brasileiro de Governança Pública (IBGP). Vale ressaltar que a Força Tarefa Cidadã continuará em 2024 com todo empenho, haja vista os enormes desafios a vencer na questão da transparência pública.

E por fim, em se tratando da meta 16.7 entramos mais uma vez nos objetivos primordiais do Sistema OSB, especialmente na sua missão de tornar o cidadão protagonista do futuro da sua cidade, de modo a garantir políticas públicas adequadas e a correta aplicação dos recursos públicos com a finalidade única de oferecer qualidade de vida para toda população. Para isso, o Sistema OSB oferece cursos pela Escola da Cidadania, realiza palestras/workshops e promove anualmente o congresso Pacto Pelo Brasil. Nas cidades, os Observatórios Sociais trabalham com a Semana da Cidadania, o Observador Social Mirim, o Observador Jovem, a Contação de Histórias Infantis, Campanha do Voto Consciente, peças teatrais, festival de artes, pedágios educativos; participam e estimulam a participação da população em audiências públicas e apoiam o trabalho dos Conselhos Municipais de Políticas Públicas. São cerca de 3 mil voluntários nessa causa em mais de 100 cidades de 12 Estados.

Há ainda muitos desafios a superar no Brasil e, segundo o Caderno ODS 16 da ONU, o país precisa enfrentá-los para que consiga construir uma cultura de paz, garantir acesso à justiça para todas as pessoas e promover instituições eficazes. E, aqui, destacamos dois deles:

– Sonegação fiscal, corrupção e envolvimento de agentes públicos com o crime organizado são citados pelo Caderno 16 da ONU como aspectos que enfraquecem o Estado, assim como as instituições pouco transparentes, efetivas e responsáveis.

– É um chamamento para a ação: para que a Agenda 2030 se concretize, é preciso comprometimento dos governos em todas as instâncias e nos diversos poderes.

E por que precisamos conectar com o ODS 17?

Porque é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável que traz diferentes aspectos para o alcance de todas as metas da Agenda 2030, tratando das mais diversas frentes para parcerias multissetoriais desde a área de finanças e passando por tecnologia, capacitação, comércio, coerência de políticas e instituições, dados, monitoramento e accountability.

ODS 17 é mais voltado para ação internacional de auxílio a países em desenvolvimento e também aborda os meios de implementação da Agenda 2030, através da assistência técnica, recursos financeiros, descentralização de conhecimentos e fortalecimento de capacidades institucionais. No Brasil, o enunciado do 17º ODS: “Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável” é também incorporado como diretriz para promoção das parcerias locais a fim de garantir a implementação de toda Agenda 2030 no território nacional.

Aqui é importante ressaltar que, aos governos municipais, coube a atribuição de adotar a Agenda 2030 em sua gestão local, de forma a promover políticas públicas em conformidade com o amplo conceito de desenvolvimento sustentável, privilegiando a participação popular na disseminação e conquistas das metas propostas em cada ODS.

Partindo dessa necessidade, o Observatório Social do Brasil assumiu uma postura de protagonismo nessa importante pauta internacional, colocando-se como ponte entre quem tem demandas e quem tem soluções. Trouxe para o congresso Pacto Pelo Brasil, em 2023, sua contribuição mais aberta ao proporcionar vitrine às boas práticas realizadas Brasil afora, tanto na iniciativa privada, academia, sociedade civil e na administração pública, de modo a promover novas alianças e parcerias para o alcance das metas dos ODS.

Alianças e parcerias são fundamentais nessa hora! São na verdade estratégicas para que o Brasil figure entre os países não só preocupados, mas verdadeiramente “ocupados” de fazer acontecer! Ocupado em garantir a correta aplicação dos recursos públicos em políticas públicas coerentes com a agenda internacional do desenvolvimento sustentável e a garantia de serviços de qualidade para toda população em cidades inteligentes, inclusivas e prósperas!

Jamais encerrando o assunto, mas concluindo o artigo, está claro que todos os brasileiros JUNTOS ainda são poucos para dar conta dos desafios do alcance da justiça social e da qualidade de vida para os cidadãos. Repetimos aqui: É urgente o investimento na Cultura da Integridade, desde a família e a base escolar, até os níveis corporativos e políticos, para que a legislação seja cumprida em todos os níveis e os ODS sejam alcançados! E união, organização, perseverança e estratégia são fundamentais para a Agenda do Desenvolvimento Sustentável, então concluímos com uma definição de Silvio Meira sobre estratégia:

“Estratégia é o processo que transforma aspirações em capacidades. As aspirações são tudo que queremos que aconteça ou exista, enquanto as capacidades são as competências, saberes, habilidades e recursos necessários para realizar essas aspirações. Dessa forma, a estratégia busca transformar o que queremos em algo que podemos fazer, considerando o tempo, espaço e escala.”

Autoras:

Letícia Cardoso, assessora executiva do Sistema OSB

Roni Enara Rodrigues, diretora executiva do Sistema OSB

Referências:

[1] POMBO, Bárbara. Faltam regras em 60% dos municípios e sete Estados. A regulamentação da Lei Anticorrupção é o primeiro passo para ela poder ser aplicada. Disponível em https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2023/07/26/faltam-regras-em-60-dos-municipios-e-sete-estados.ghtml

[2] CONACI. Os três estados brasileiros que mais aplicam a Lei Anticorrupção no Brasil são membros do Conaci. Disponível em: https://conaci.org.br/noticias/os-tres-estados-brasileiros-que-mais-aplicam-a-lei-anticorrupcao-no-brasil-sao-membros-do-conaci/#:~:text=Conhecida%20como%20Lei%2012.846%2F2013,poder%20p%C3%BAblico%20e%20a%20sociedade.

[3] CGU. CGU aplica e mantém penalidades a quatro empresas envolvidas em atos ilícitos. Disponível em: https://www.gov.br/cgu/pt-br/assuntos/noticias/2023/10/cgu-aplica-e-mantem-penalidades-a-quatro-empresas-envolvidas-em-atos-ilicitos

NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/16

INSTITUTO AURORA. ODS 16: Pela construção e manutenção de uma cultura de paz. Disponível em: https://institutoaurora.org/ods-16-cultura-de-paz/?gclid=CjwKCAiAvJarBhA1EiwAGgZl0Blt3wghaFsRDbE8ApdPhNVBnQaHy9YmNB-bB5zOwe_r0FJ8XOyDLhoCBQgQAvD_BwE

ESTRATÉGIA ODS. ODS 17: Pela construção e manutenção de uma cultura de paz. Disponível em: https://estrategiaods.org.br/os-ods/ods17/

MEIRA, Silvio e demais autores. O Valor da Estratégia. TDS Company. Disponível em https://biblioteca.tds.company/o-valor-da-estrategia

ObservatórioSocial do Brasil

O OSB é uma instituição não governamental, sem fins lucrativos, disseminadora de uma metodologia padronizada para a criação e atuação de uma rede de organizações democráticas e apartidárias do terceiro setor. O Sistema OSB é formado por voluntários engajados na causa da justiça social e contribui para a melhoria da gestão pública.

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