O OSB – São Paulo, é um dos beneficiados pelo Projeto de Extensão de Serviços à Comunidade da FEA.
Identificar problemas, planejar uma estratégia de ação e solucionar as demandas. Esse é o trabalho do Projeto de Extensão de Serviços à Comunidade (Pesc), da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade (FEA) da USP, em São Paulo, que presta consultoria a iniciativas do terceiro setor. Estudantes de todos os cursos da USP podem participar e os selecionados formam grupos de até seis alunos e escolhem uma entidade para prestar o auxílio necessário.
Eles analisam as principais demandas da instituição e precisam ter proatividade para solucionar os problemas encontrados, recorrendo a especialistas de diferentes áreas. “Temos bastante autonomia para conduzir o serviço de consultoria”, afirma Ester Romano, estudante de Economia e bolsista do Pesc.
O projeto é a oportunidade de ter a experiência para atuar no mercado de trabalho e aplicar conhecimentos aprendidos em sala de aula. Durante a consultoria, os alunos desenvolvem senso de liderança, trabalho em grupo e resolução de problemas da área profissional. “É a chance de devolver o investimento destinado à Universidade na forma de serviços para a sociedade”, segundo o professor Carlos Alberto Pereira, coordenador do Pesc.
Para auxiliar os projetistas, cada grupo possui um tutor, geralmente, um aluno de pós-graduação que já participou do Pesc anteriormente, mas que não se envolve necessariamente na prática do trabalho. De acordo com o coordenador do Pesc, os professores da FEA estão disponíveis para auxiliar os estudantes de acordo com a sua área de especialidade.
O maior desafio, segundo Ester, é a gestão de pessoas e condução do trabalho em equipe, possibilitando que todos participem e a consultoria gere resultados. Quanto a isso, Rodrigo Sanchez Camarinha, aluno de Contabilidade da FEA e projetista do Pesc, explica que a consultoria poderia ser mais eficiente se a experiência de antigos integrantes do projeto fosse compartilhada, já que a ajuda do tutor não é o suficiente. “Sentimos falta dessa orientação. Saber o que já funcionou e métodos que foram utilizados”, relatam.
O grupo de Ester e Rodrigo presta consultoria para a sede em São Paulo do Observatório Social do Brasil (OSB-SP), entidade apartidária e sem fins lucrativos responsável por fiscalizar as ações do Executivo e Legislativo em nível municipal e comunicar aos órgãos determinadas falhas, garantindo a eficácia da gestão pública.
A ideia surgiu no Paraná, em 2008, quando houve um escândalo de corrupção que levou os cidadãos a se unirem para monitorar o poder público. Hoje, existem observatórios em 130 municípios divididos em 17 Estados diferentes. Nos últimos quatro anos, foram economizados mais de R$ 2 bilhões a partir do monitoramento do poder público pelo sistema de observatórios no Brasil.
A entidade trabalha apenas com voluntários e recebe recursos de doações. São feitos três principais trabalhos: cobrança de transparência do poder público a partir da disponibilização de informações aos cidadãos; fomento ao controle social, ou seja, deixar claro que é dever e direito do cidadão incentivar o controle do poder público, pois ele atua em prol da população; e monitoramento de licitações. A sede em São Paulo também analisa políticas públicas, o que pode influenciar na legalidade da licitação.
“É possível comprar bolacha para merenda escolar. O poder público faz a licitação, compra bolacha abaixo do preço de mercado em uma quantidade razoável, mas ela não pode ser servida no cardápio da escola porque não cumpre a necessidade de uma alimentação saudável. Se olharmos apenas a licitação, não temos nenhuma irregularidade, mas, se olharmos a política envolvida na merenda escolar, o produto não atende aos requisitos”, explica Paulo de Oliveira Abrahão, presidente do Conselho Administrativo do OSB-SP.
Quando o observatório localiza alguma inconformidade nas licitações, existe uma metodologia a ser seguida. Primeiro, eles mandam um ofício para o gestor da lei explicando a atuação da entidade e a possível irregularidade. Caso não tenham resposta, o ofício é encaminhado para a Câmara dos Vereadores, órgão legislativo responsável por monitorar o Executivo. Se não houver resposta com justificativa, entram em contato com o Ministério Público (MP).
“Paramos por aí, não vamos à mídia, esse não é nosso estilo de trabalho. Porém, normalmente, quando a situação chega ao MP, as consequências para o responsável sobre a licitação são graves”, comenta.
O monitoramento e a transparência são essenciais para permitir que medidas coerentes sejam feitas pelo governo municipal, porém a carga de trabalho é grande. Segundo Abrahão, foram feitas 11 mil licitações no ano passado, número impossível de ser abrangido pelos voluntários do observatório. Além disso, a entidade tem problemas com a governança corporativa. Eles possuem um conselho administrativo mas não uma diretoria executiva, o que causa acúmulo de funções e problemas de hierarquia.
Para resolver suas principais demandas, o OSB procurou o Pesc, buscando identificar a origem da dificuldade em captar e reter voluntários. Os estudantes da USP formularam um questionário para que as pessoas que trabalham no observatório apontassem erros e acertos da gestão do lugar. Agora, eles elaboraram um fluxograma dos processos realizados pelo Observatório, a fim de facilitar o entendimento sobre o trabalho para novos membros.
O Pesc também está buscando apoio de grupos de estudo e de especialistas em tecnologia da informação. A ideia é a possível elaboração de uma ferramenta eletrônica capaz de filtrar as licitações que apresentem possíveis irregularidades, diminuindo a carga e otimizando o trabalho do observatório.
A consultoria da USP no OSB começou em outubro de 2018. Os primeiros meses são destinados à análise das principais demandas da ONG, agora, eles colocam em ação o planejamento realizado para até outubro deste ano. O Observatório Social do Brasil afirma que o feedback, até o momento, é bastante positivo. “É uma oportunidade de ter contato com conhecimento de ponta vindo da USP e ideias diferenciadas trazidas pelos alunos. É um serviço que não teríamos condições de bancar e estamos tendo acesso de forma gratuita”, conta Paulo de Oliveira Abrahão.
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Via Portal USP.
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